13.11.11

A garota do cobertor

A chuva batia fria na janela. Uma criança menina, enrolada em um grande cobertor, aguardava a um espetáculo com a testa encostada no vidro.

No andar de cima, gritavam seu pai e sua irmã por ajuda, ambos com as mãos acorrentadas ao teto, pendurados sobre cadáveres de pombos brancos e pretos molhados de sangue e lagrimas.

Após algum tempo a garota sai de perto da janela, sobe as escadas vagarosamente arrastando a coberta como um longo véu sobre o rosto. Chega ao quarto, bate na porta e entra. Ambos moribundos a olham assustados, podia-se ver atrás de seus olhos o medo brilhando desesperadamente, seus corpos trêmulos e mudos tentavam se encolher, se enrolar em si próprios diante da aparição daquela criatura sombria e coberta.

Então a menina tira um ronco de sua garganta similar a uma risada engasgada. Puxa o "véu" da cabeça revelando seus olhos: Vazios e pálidos, parecendo hipnotizados. Começa calmamente a dobrar a coberta, tão calmamente que deixa seus parentes ansiosos. Ansiosos pela morte?

Ao terminar de dobrar o coloca do lado de fora do quarto e encosta a porta, se vira para seu pai e irmã e sorri, mas pelo canto das bochechas coradas começam a descer lagrimas, gotas grandes e gordas. Um Sorriso, Algumas Lagrimas... O que falta?

Ela se aproxima mais, olhando para cima, fitando os olhos do pai. Este era jovem, generoso, amava muito ambas as filhas, cuidara das duas, embora nenhuma fosse realmente sua, mas sim filhas de sua falecida esposa. A este, a menina beija suavemente a ponta dos pés. Então se dirige a irmã, sobe em uma escada parada ao lado, a olha também nos olhos. Dois anos mais velha a irmã pendurada sempre fora carinhosa com sua família, principalmente com a irmãzinha com quem excedia tamanha proteção e amor. A ela lhe é dado um beijo na bochecha.

Afasta-se novamente dos dois agora paralisados e confusos. "Não é ódio que preenche meu coração" ela diz "é apenas uma nuvem escura que chove em meu peito". Por um momento seu pai permanece serio, mas quando se vira para o lado, espanta-se ao ver sua filha mais velha sorrindo para a mais nova. Logo ele entende e manda um sorriso também à pequena que os devolve com a mesma sinceridade.

Ela vai se afastando em direção a porta, o sorriso dos familiares vai diminuindo, mas deixando vestígios, e some de vez quando a menina tira de trás do armário uma pequena bomba. Ela a coloca no chão, próximo aos pés deles, vai até a grande janela no fundo do quarto e a abre. Depois volta para a bomba, a arma, sai do quarto, e antes de fechar a porta, por um pequeno vão lança um olhar frio para seu pai e irmã que começam a agonizar. A porta se fecha.

La fora a chuva continua. Ela pega sua manta limpa e se cobre novamente como um véu, desce as escadas e assume seu posto ao lado da janela onde assiste por alguns segundos a água transparente antes de ouvir um estrondo e ver o começo de uma chuva vermelha.

"que bela". Ela sorri e adormece.

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