18.11.11

Casa dos Mortos

Parte 1.

La dentro, o ar é gélido e abafado, a luz entra fraca pelas janelas sujas de pó. Tudo é meio pálido, pacientes moribundos vagam rastejantes pelos cômodos, todos com os ombros caídos e os rostos virados para o chão, todos ocultos pelas sombras, o formato de suas cabeças é alongado e não redondo, é cinza e careca, e se pode ver pelas sombras que suas bocas pendem até o pescoço como um grande buraco negro. No meio dessas criaturas cinza passa uma mulher, cabelo comprido e negro, a pele tão branca e pálida quando o vestido que se arrasta pelo chão. Ela passa de um cômodo ao outro até que sai da casa e senta-se em uma cadeira de balanço. Mamãe. Na casa dos doentes, se recuperando enquanto eu torço para que não roubem sua alma e que não fique como as criaturas rastejantes lá de dentro.

Parte 2.

O lado de fora da casa é decadente, o velho casarão com suas madeiras sem cor e repletas de musgo caindo aos pedaços. Na varanda apenas algumas cadeiras em frente às grandes portas abertas, as finas colunas que seguram o telhado se parecem com ossos mofando. Na casa havia apenas algumas plantas tristemente posicionadas do lado de dentro. Mamãe continuava sentada na varanda, atônita, encarando o vazio do céu azul de outono, ao redor da casa, o chão é coberto por um tapete de folhas laranja e arvores secas. Lá estou eu novamente parada em frente á aquele lugar, de vestido amarelo ao lado de meu irmão. Ambos a encaramos, sabemos que não podemos nos aproximar. Então escuto um assovio vindo de uma arvore, me viro e vejo algo preto e brilhante entre as folhas do chão, me abaixo e seguro com minhas duas mãos um rato morto, com os dentes afiados de fora e os olhos vermelhos pálidos, continuo o segurando, até que ele se transforma em uma maçaneta prateada, faz parte da casa. Ela some da minha mão. Dou a volta na varanda, encarando Mamãe muda, continuo a olhá-la até que chego novamente perto da escada escondida, mas dessa vez não abro caminho entre o mato, não desço os degraus, já sei o que me aguarda lá em baixo, o pântano viscoso que abriga monstros e criaturas místicas e violentas, um caminho sem volta.

Estou sozinha novamente, vejo a janela do lado da casa, subo em algumas latas de lixo e olho para dentro dela. Fico em silencio assistindo aos moribundos pacientes andando com seus rostos ocultos, até um deles me nota, ele vira seu rosto esverdeado para mim. Quero agonizar, mas estou paralisada. Ele vem em minha direção, posso ver agora. Seus olhos como crateras escuras e fundas, sua boca puxada para baixo contorcida num grito mudo.

Eu olho.

Olho.

Olho e me perco naquele desespero.

Um comentário:

  1. Leóš Janáček

    From the House of the Dead

    http://www.youtube.com/watch?v=Kyp1vncfM6A

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