O quarto de Anita sempre tinha um ar de outro mundo. No teto
estavam pendurados cristais que brilhavam conforme a luz passava pelas cortinas
amarelas da janela. Na vitrola o álbum “wish you were here” tocava
constantemente.
O quarto era repleto de uma paz plena, e as poucas pessoas
que entravam lá além de Anita, tomavam o cuidado de não caírem no desejo de
nunca mais sair. Ela própria saia do quarto só quando fosse extremamente
necessário ou quando forçada pelos médicos.
Recebia as visitas em seu quarto, embora raramente falasse
com elas. A maioria de seus amigos e familiares se estressavam ao tentar
conversar, afinal, eles ainda eram “normais” enquanto ela não conseguia manter
uma linha reta de pensamento, era difícil acompanhar sua mente e suas palavras
lentas poucas vezes faziam sentido.
A verdade é que todos a julgaram, assim como julgavam todos
naquele lugar como uma pessoa demente, e faziam pouco esforço para
compreende-los e mais esforço para se manter longe dali.
Mas Anita, diferente de todos e em segredo, era sã e estava
ali por vontade própria. Compreendera que o mundo enlouquecia e que todos em
segredo escondiam sua amalucada personalidade, que estavam todos paranoicos.
Mas para ela, que assumia sua alucinação, era difícil conviver com as pessoas,
pois estas se esqueceram de como é andar por um mundo onde a imaginação se constrói
com a realidade ao invés de se chocar com ela. A criatividade em pouca
quantidade era considerada um dom, mas em grande quantidade... Loucura.
Por isso um dia, cansada das mentes fechadas, dos assuntos
vazios e do mundo sem cor a que todas as pessoas tentavam molda-la, foi ao sanatório
e se internou. E desde então tem se isolado lá, conversando apenas com outros
internos também considerados loucos. Às vezes vinha um amigo ou outro com quem
ela falava, e a todos ela dizia a mesma coisa:
O mundo real está em nossas cabeças, isso que vivemos é uma
fantasia apenas para escondermos o fato de que a real loucura é a sanidade.
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