16.6.13

A loucura de Anita

O quarto de Anita sempre tinha um ar de outro mundo. No teto estavam pendurados cristais que brilhavam conforme a luz passava pelas cortinas amarelas da janela. Na vitrola o álbum “wish you were here” tocava constantemente.
O quarto era repleto de uma paz plena, e as poucas pessoas que entravam lá além de Anita, tomavam o cuidado de não caírem no desejo de nunca mais sair. Ela própria saia do quarto só quando fosse extremamente necessário ou quando forçada pelos médicos.
Recebia as visitas em seu quarto, embora raramente falasse com elas. A maioria de seus amigos e familiares se estressavam ao tentar conversar, afinal, eles ainda eram “normais” enquanto ela não conseguia manter uma linha reta de pensamento, era difícil acompanhar sua mente e suas palavras lentas poucas vezes faziam sentido.
A verdade é que todos a julgaram, assim como julgavam todos naquele lugar como uma pessoa demente, e faziam pouco esforço para compreende-los e mais esforço para se manter longe dali.
Mas Anita, diferente de todos e em segredo, era sã e estava ali por vontade própria. Compreendera que o mundo enlouquecia e que todos em segredo escondiam sua amalucada personalidade, que estavam todos paranoicos. Mas para ela, que assumia sua alucinação, era difícil conviver com as pessoas, pois estas se esqueceram de como é andar por um mundo onde a imaginação se constrói com a realidade ao invés de se chocar com ela. A criatividade em pouca quantidade era considerada um dom, mas em grande quantidade... Loucura.
Por isso um dia, cansada das mentes fechadas, dos assuntos vazios e do mundo sem cor a que todas as pessoas tentavam molda-la, foi ao sanatório e se internou. E desde então tem se isolado lá, conversando apenas com outros internos também considerados loucos. Às vezes vinha um amigo ou outro com quem ela falava, e a todos ela dizia a mesma coisa:

O mundo real está em nossas cabeças, isso que vivemos é uma fantasia apenas para escondermos o fato de que a real loucura é a sanidade.

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