No fundo acho que todos somos crianças mimadas e
entediadas, não sabemos o que fazer e por isso enlouquecemos.
Mas como poderíamos não
ficar entediados? Como podemos não ficar malucos? Somos trazidos ao mundo como
uma forma de vida fraca e com um equilíbrio frágil. Tentamos construir um
caminho pelo mundo e por isso vestimos a indiferença como armadura. Mas temos
que ter um lugar onde possamos ficar livres disso, expressar nossos
sentimentos, dizer a verdade, mostrar que ligamos para tudo e que isso não faz
de nós fracos ou loucos.
Um lar, um conforto, uma
pessoa, algo que nos suporte, algum lugar para voltar, um destino, um objetivo,
algo bom, um propósito. Nós não temos muitas coisas que nos faça querer sinceramente sair da cama. Por isso
precisamos das trilhas da sociedade. Queremos ter uma casa, temos contas pra
pagar por isso trabalhamos, mas o trabalho nos faz sentir vazios então precisamos
comprar coisas, sair pra beber, conhecemos pessoas que nos fazem querer mudar,
preenchemos nossas mentes com isso, com coisas que nos irritam e nos de prazer,
e praticamente com qualquer coisa que tire nossa atenção do vazio que sentimos,
para que possamos dormir a noite e ignorar os monstros de baixo da cama e
dentro do armário.
Eu sempre fico deprimida
nas férias. Acho que as férias serviram até hoje como uma contagem regressiva
para o meu desespero. Elas me mostram como minha vida é vazia quando não estou
cansada com a escola e a infinidade de besteiras que me preenchem, assim tenho
tempo o suficiente pra me afogar em pensamentos tortuosos e afundar em
silencio... Então me tiram, volto às aulas, eu estou bem de novo, cega
de novo.
Só que eu sempre soube
que um dia nada me puxaria de volta à superfície. Os anos dourados da infância
já se passaram, e faz muito que se tornaram apenas uma promessa de dias
felizes. Esta chegando o momento em que tudo o que me restará são meus
pensamentos, tão cruéis e impiedosos, e então, minha asfixia será inevitável...
E silenciosa.
Talvez vocês consigam
respirar, talvez isso seja só eu, mas eu gosto de fazer essas sentenças no
plural, me faz pensar, talvez ilusoriamente, que não sou a única a sufocar.
Talvez eu não seja.
Talvez eu não seja.
Você está respirando?
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